Calma,
você não leu errado. Não tire conclusões precipitadas sobre o sentido do
título desse pequeno artigo.
Essa
frase está presente no filme do Batman de 1989, que traz Michael Keaton como o
homem-morcego e o icônico ator Jack Nicholson no papel de Coringa. Antes de se
transformar no perigoso vilão, Jack (nome original do Coringa e
coincidentemente do ator que o interpreta) era um ladrão e assassino que sempre
dizia essa frase antes de atirar em suas vítimas. Mas, afinal de contas, o que
essa frase tem a ver com o cristianismo e a vida cristã? Tudo!
Cada
vez que optamos pelo pecado e rejeitamos a Deus mesmo que inconscientemente,
estamos dançando com o demônio sob a luz do luar. Vamos nos aprofundar no texto
de Efésios 5:3-17.
“Que a
imoralidade sexual e toda impureza ou avareza não sejam nem sequer mencionadas
entre vocês, como convém a santos” (v. 3). A cidade de Éfeso era
mergulhada na idolatria e prostituição e isso afetava a vida da sociedade,
inclusive na esfera religiosa. Como comenta Hernandes Dias Lopes: “A
imoralidade grassava nos templos de Afrodite, em Corinto, e de Diana, em Éfeso.
A imoralidade sexual era uma prática comum nesse tempo[1]”. Por estar ligado tão
fortemente com a vida em Éfeso, os cristãos deveriam se abster disso e nem
mesmo ser mencionados entre eles. Assim como também a avareza que é como pecado
de idolatria.
Nosso
Senhor Jesus faz essa comparação em Mateus 6:24: “Ninguém pode servir a dois
senhores; porque ou irá odiar um e amar o outro, ou irá se dedicar a um e
desprezar o outro. Vocês não podem servir a Deus e às riquezas”. As
riquezas podem se tornar um ídolo em nossos corações, como comenta Yago
Martins:
É
possível perdermos o significado primário do texto ao acreditarmos que mammon
(traduzido aqui por “riquezas”) é o nome de alguma entidade demoníaca
responsável pela ganância. Quando percebemos que o aramaico mammōnâ’ significa
essencialmente “posses”, parece mais provável que Jesus não está nomeando
nenhum demônio específico, mas usando uma palavra da língua comum de seus
ouvintes... No entanto, o ídolo aqui são as riquezas.[2]
Tanto
a imoralidade sexual quanto a avareza não é para sequer serem mencionados em
nosso meio. É inconcebível ao cristão ser um imoral e um avarento. Cuidado com
ídolos escondidos nas profundezas de seu coração.
“Não
usem linguagem grosseira, não digam coisas tolas nem indecentes, pois isso não
convém; pelo contrário, digam palavras de ação de graças” (v. 4). Os
pecados da língua muitas vezes são ignorados por nós. Palavras obscenas, piadas
imorais, se envolver em fofocas (vixe!), mexericos etc. Paulo fala aqui
claramente que não convém aos cristãos se envolverem com esse tipo de atitude.
Muito pelo contrário, ele afirma que devemos dizer palavras de ação de graças.
No capítulo anterior, ele enfatiza: “Não saia da boca de vocês nenhuma
palavra suja, mas unicamente a que for boa para edificação, conforme a
necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” (4:29). Infelizmente
tenho visto cada vez mais normalizado entre os cristãos o uso de palavras
chulas e de baixo calão. E pior, não no sentido de escapulir sem querer, talvez
num momento de raiva, mas sim como algo cotidiano e habitual de falar. Como
diziam os antigos, temos que lavar nossa boca com sabão!
“Fiquem
sabendo disto: nenhuma pessoa imoral, impura ou avarenta — porque a avareza é
idolatria — tem herança no Reino de Cristo e de Deus” (v. 5).
Agora vemos o apóstolo aprofundando algo que ele já disse no versículo 3,
incluindo associar a avareza com a idolatria. Aqui ele coloca um adendo, ou
seja, ele inclui algo terrível para quem pratica essas coisas: não herdarão o
reino de Deus. Imorais, impuros e avarentos não têm parte alguma com nosso
Senhor. Como diz o salmista: “Quem subirá ao monte do Senhor? Quem
há de permanecer no seu santo lugar? O que é limpo de mãos e puro de
coração, que não entrega a sua alma à falsidade, nem faz
juramentos com a intenção de enganar. Este receberá
do Senhor a bênção e a justiça do Deus da sua salvação”
(Salmos 24:3-5). A mensagem é clara: Quem pratica essas coisas está perdido
e quem não se arrepende não pode ser salvo.
“Não
se deixem enganar com palavras vazias, porque a ira de Deus vem sobre os filhos
da desobediência por causa dessas coisas. Portanto, não participem
daquilo que eles fazem” (v. 6,7). Agora vou adentrar um
assunto que pode ser como mexer em um vespeiro... os falsos mestres. Eles vão
tentar enganar o povo de Deus com palavras vazias, levando as pessoas ao erro e
consequentemente, à desobediência. Falsos mestres tentam calar a voz de Deus,
reduzir a Bíblia. Teólogos liberais que vão tentar argumentar: “O problema não
é o pecado, é a culpa. Liberte-se da culpa”. Esses emissários do inferno omitem
que o pecado é rebelião contra um Deus santo, uma ofensa ao Seu nome. A culpa é
um alerta para nos arrependermos. Se tiramos a culpa, não há arrependimento.
Sem arrependimento, não há perdão. Sem perdão, estamos condenados. Por isso são
chamados filhos da desobediência e o conselho de Paulo é não participarmos
daquilo que eles fazem. Não devemos nos associar com estes.
“Porque
no passado vocês eram trevas, mas agora são luz no Senhor. Vivam como filhos da
luz” (v. 8). Reparem que o texto não diz que estávamos nas
trevas, mas sim que éramos trevas. No passado, antes de conhecermos a Cristo,
estávamos tão envoltos às coisas malignas que não havia diferença entre nós e
as obras das trevas. Éramos tão participantes que nos tornamos trevas. No
entanto, o contraste desse versículo é maravilhoso. Assim como não apenas estávamos
nas trevas como éramos trevas, agora, em Cristo, não estamos apenas na luz, nós
somos luz! Aleluia! E qual é a função da luz? A luz ilumina, purifica, aquece,
aponta a direção, avisa sobre os perigos e produz vida. Vivamos como filhos da
luz.
“Porque
o fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade —, tratando
de descobrir o que é agradável ao Senhor” (v. 9,10). Por
sermos luz, o fruto que produzimos é luminoso. E que fruto é esse? Bondade,
justiça e verdade. Bondade (agathsyne) reflete generosidade de espírito.
Justiça (dikaiosyne) tem o sentido de dar aos homens e a Deus o que lhes
pertence. Verdade (aletheia) não é só algo que se conhece, mas que se
faz. Esse fruto da luz tem características práticas. Para qual propósito? Descobrir
o que é agradável ao Senhor.
“E não
sejam cúmplices nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, tratem de
reprová-las. Pois aquilo que eles fazem em segredo é vergonhoso
até mencionar” (v. 11,12). As obras das trevas são
más. E por serem más e não sermos mais trevas, é nossa obrigação reprová-las. Isso
é inegociável. Infelizmente alguns acreditam que existem zonas neutras. O que
quero dizer com isso? Que dependendo do que está sendo discutido ou do ambiente
em que me encontro, tudo bem ser cúmplice das obras das trevas. Quantas vezes
vi pessoas que se dizem cristãs xingando, amaldiçoando, ofendendo
gratuitamente, sendo destemperados quando o assunto é política, seja
pessoalmente ou nas redes sociais? E nos estádios de futebol, o que acontece? A
coitada da mãe do juiz que o diga! Então, tenhamos isso em mente: não existe
zona neutra. Não tem como sermos luz e promovermos aquilo que é sujo e podre.
Ou você é uma coisa ou outra, as duas não dá. É vergonhoso até mesmo mencionar o
que eles fazem em segredo, quanto mais promover.
“Mas
todas as coisas, quando reprovadas pela luz, se tornam manifestas; porque tudo
o que se manifesta é luz. Por isso é que se diz: ‘Desperte, você
que está dormindo, levante-se dentre os mortos, e Cristo o iluminará.’”
(v. 13,14). Tudo que a luz reprova não fica oculto. Isso é algo que
te alegra ou te preocupa? Estamos vivenciando nos últimos tempos uma onda de
escândalos envolvendo a igreja. Tudo está vindo à luz porque Cristo guarda sua
igreja. E por Cristo guardar sua igreja, tudo aquilo que é podre está sendo
exposto para que seu povo não fique enganado. É necessário um despertamento, um
levantar dentre os mortos para Cristo nos iluminar.
“Portanto,
tenham cuidado com a maneira como vocês vivem, e vivam não como tolos, mas como
sábios, aproveitando bem o tempo, porque os dias são maus” (v. 15,16). Muitas
pessoas não ligam muito com a maneira como vivem, do que sai de suas bocas, em
como se portam porque para elas o que importa é o coração, que Deus conhece o
coração delas. Mas o testemunho é fruto de uma transformação interior, do
nascer de novo. Aqueles que alegam serem cristãos, alegam serem luz, alegam
terem conhecido Jesus, mas não tem cuidado com a maneira como agem perante os
outros, são tolos. O crente não tem o direito de ser tolo, ainda mais nos dias
de hoje. Se os dias já eram maus no período em que essa epístola foi escrita,
quanto mais nos tempos atuais. Toda oportunidade que temos devemos testemunhar
Cristo e não há como fazer isso dando mal testemunho.
“Por
esta razão, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do
Senhor” (v. 17). Discernir a vontade de Deus para nossas vidas é
essencial. A vontade de Deus vai nos direcionar àquilo que Ele tem preparado
para nós. Não tem como vivermos nas trevas, com linguajar sujo, participando de
tudo que é errado e estarmos dentro da vontade do Senhor, porque se estamos
vivendo assim, estamos vivendo segundo os padrões do mundo. “E não vivam
conforme os padrões deste mundo, mas deixem que Deus os transforme pela
renovação da mente, para que possam experimentar qual é a boa, agradável e
perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2). Somente se Deus nos transformar através
da renovação da nossa mente, podemos experimentar a vontade de Deus para nós.
Não há atalhos, não há outra forma.
Para
finalizar, quero repetir a pergunta: você já dançou com o demônio sob a luz do
luar? A reposta para isso é um sonoro “sim”. Eu me incluo nisso. Cada vez que
escolhemos o pecado, tiramos o diabo para uma dança. Como diz o refrão da
música Dance With The Devil do Impellitteri: “If you dance with the devil,
hell is the price you must pay” (Se você dança com o diabo, o inferno é o preço
que você deve pagar).
Diante
de suas fraquezas, olhe para Cristo, fixe seus olhos Nele. Ele é o seu alvo. Ele
é o amado da sua alma e é com Ele que devemos dançar.
Em
Cristo,
Pb.
Gustavo Hoft
[1]
LOPES, Hernandes Dias. Efésios: igreja, a noiva gloriosa de Cristo. São Paulo:
Hagnos: 2009, p. 129.
[2]
MARTINS, Yago. No alvorecer dos deuses: desvendando as idolatrias profundas do
coração. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2020, p. 29.
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