A Páscoa

 

Para falarmos sobre a origem da Páscoa, temos que ir para o Antigo Testamento, no livro de Êxodo, capítulo 12. O contexto está narrando as pragas que Deus estava enviando ao Egito por faraó não ter deixado o povo hebreu partir. Quando Deus anuncia a décima e última praga (a morte do primogênito), é instituída a Páscoa.

Era separado um cordeiro ou um cabrito por família que seria um macho de um ano e sem defeito. Essa exigência claramente prefigura a perfeição e impecabilidade de Jesus, o último Cordeiro da Páscoa, cuja morte foi uma expiação substitutiva pelo pecado humano[1]. Esse animal era sacrificado ao pôr do sol no décimo quarto dia do primeiro mês, que é o mês de abibe (março-abril do calendário ocidental).

Eles passaram o sangue nas laterais e nas vigas superiores das portas das casas e comiam a carne assada no fogo com ervas amargas e pães sem fermento. O sangue representa a vida (Lv 17:11), então a libertação através do sangue do animal denota sua natureza substitutiva, ou seja, sua vida foi dada em troca de outra. As ervas amargas era para lembrar do sofrimento de Israel durante sua estada na terra do Egito e os pães sem fermento refletem a partida apressada. Eles tinham que comer tudo sem deixar sobrar nada. Outro ponto que denota pressa é que eles deveriam comer estando prontos para sair, com cinto no lugar, sandálias nos pés e cajado na mão.

A palavra Páscoa (Pessach) como substantivo significa o ritual de celebração da primeira festa do antigo calendário bíblico ou a vítima do sacrifício, o cordeiro pascal. Já o verbo tem outra conotação, como aponta o professor Técio Machado Siqueira:

O substantivo pesah/páscoa vem da raiz verbal psh que aparece três vezes nos relatos pascais (Ex 12.13,23,27; ler também Is 31.5; 1 Rs 18.21,26). Assim, o verbo pasah passar por cima, saltar por cima é o significado que prevalece nos usos deste termo pelos escritores e escritoras da Bíblia.[2] (METODISTA, s.d.).

Então, de forma resumida, tentei explicar o que é a Páscoa judaica. Agora, onde entra no cristianismo nessa história? Jesus é apontado por João Batista como o Cordeiro de Deus (Jo 1:29). Mas por que Jesus é chamado assim? A primeira menção ao cordeiro sendo oferecido como sacrifício se encontra em Gênesis 22, quando Deus pede para Abraão entregar seu filho Isaque em sacrifício e Abraão diz que “Deus providenciará o cordeiro para o sacrifício” (v. 8). Depois foi instituído no êxodo, no tempo da última praga contra os egípcios que era a morte dos primogênitos, que os hebreus sacrificassem um cordeiro macho de um ano, sem defeito (Êxodo 12:5) e ficou instituída a Páscoa (Pessach) judaica. Tudo isso apontava para Cristo.

Quando Jesus, depois da ceia com os discípulos, foi para o Monte das Oliveiras, ele se encontrou no Getsêmani, que era um olival que ficava no meio do monte. Getsêmani significa “prensa do azeite”, pois o azeite é extraído da azeitona dessa forma, prensado. Lá Jesus fica em estado de aflição tão grande que é revelado que ele suou sangue (Lucas 22:44). O suar sangue, ou hematidrose, é produzido em condições excepcionais, sendo necessária uma fraqueza física acompanhada de um abatimento moral violento causado por um grande medo.

Jesus ora para que o cálice fosse afastado (Mateus 26:39). O que tinha nesse cálice que fez Jesus tremer? Seria a humilhação, ou o flagelo, ou a cruz? Não. Uma leitura atenta da Bíblia, descobriremos que o cálice é símbolo da ira de Deus (Isaías 51, Jeremias 25, Apocalipse 14). A ira justa de Deus seria derramada em seu Filho, como propiciação dos pecados e satisfação da justiça.

Quando lemos a história de Abraão e Isaque, com Deus falando para Abraão não sacrificar seu filho podemos pensar: que final bonito. Mas não era o final, era o intervalo. Cerca de dois mil anos depois, Deus tira o cutelo das mãos de Abraão e crava em seu Filho, seu único Filho para que ele pagasse o preço da salvação de muitos.

“Todavia, ao Senhor agradou esmagá-lo, fazendo-o sofrer. Quando ele der a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos” (Isaías 53:10)

Naquela cruz, “Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi sacrificado” (1 Coríntios 5:7). E quando ele bradou “está consumado”, houve trevas e o véu do templo de rasgou do alto a baixo (Mateus 27:51). A força veio de cima. O véu representava a presença escondida de Deus, onde apenas o sumo sacerdote poderia adentrar uma vez por ano para fazer expiação pelo pecado do povo e de seu próprio.

Agora, o véu foi rasgado e temos acesso ao Santo dos Santos, por um novo e vivo caminho que Jesus abriu por meio de sua carne: “Portanto, meus irmãos, tendo ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que ele nos abriu por meio do véu, isto é, pela sua carne” (Hebreus 10:19,20).

Não negligenciemos esse sacrifício, porque Jesus não virá para morrer novamente. Não há mais sacrifício para quem peca de propósito depois de ter conhecido a verdade e a Palavra diz que quem faz isso profana o sangue da aliança e insulta o Espírito da graça: “Porque, se continuarmos a pecar de propósito, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados. Pelo contrário, resta apenas uma terrível expectativa de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários. Quem tiver rejeitado a lei de Moisés morre sem misericórdia, pelo depoimento de duas ou três testemunhas” (Hebreus 10:26-28).

Guardemos firmes nossa confissão, sem vacilar. Animemos uns aos outros. Não deixemos de congregar. Façamos admoestações

“Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois, quem fez a promessa é fiel. Cuidemos também de nos animar uns aos outros no amor e na prática de boas obras. Não deixemos de nos congregar, como é costume de alguns. Pelo contrário, façamos admoestações, ainda mais agora que vocês veem que o Dia se aproxima” (Hebreus 10:23-25).

Concluo dizendo que a história da Páscoa, desde o Antigo Testamento, apontava para um alvo específico: Jesus. Em Cristo, a Páscoa foi cumprida porque Ele é o Cordeiro perfeito, que morreu nossa morte para que hoje tivéssemos vida. Se Jesus tivesse apenas morrido, estaríamos perdidos: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a fé que vocês têm, e vocês ainda permanecem nos seus pecados. E ainda mais: os que adormeceram em Cristo estão perdidos” (1 Coríntios 15:17,18). Mas como ele ressuscitou, temos esperança inabalável. Essa é a nossa Páscoa: a ressurreição de Jesus Cristo. É isso que comemoramos, a vitória de Cristo sobre a morte. E, se Ele ressuscitou, também ressuscitaremos: “Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade e o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: ‘Tragada foi a morte pela vitória’. ‘Onde está, ó morte, a sua vitória? Onde está, ó morte, o seu aguilhão?’ O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças a Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Coríntios 15:53-57).

Jesus foi profetizado, ele nasceu. Ele disse que iria morrer, morreu. Ele disse que iria ressuscitar, ressuscitou. Ele disse que vai voltar, e voltará! Maranata, ora vem Senhor Jesus!

Em Cristo,

Pb. Gustavo Hoft



[1] Bíblia de Estudo Thomas Nelson – Nova Versão Internacional / Thomas Nelson Brasil. São Paulo: Thomas Nelson Brasil, 2021, p. 157.

[2] SIQUEIRA, Técio Machado. Uma estudo sobre a origem da Páscoa. Metodista, s.d. Disponível em https://metodista.br/faculdade-de-teologia/materiais-de-apoio/estudos-biblicos/um-estudo-sobre-a-origem-da-pascoa. Acesso em: 19 abr. 2025.


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